quinta-feira, 18 de junho de 2020

VIAGEM PELA COSTA VICENTINA ALENTEJANA



Inmaculada Montero


Agora que tenho todo o tempo do mundo e depois de ler o artigo de El País no sábado 21 de março "Sección de viajes imaginarios" aproveitarei esta quarentena para lembrar e partilhar algumas viagens por Portugal.
Desta vez é o turno do Alentejo. Que longe fica o Alentejo-alem do Tejo! Quando pensamos no Alentejo costumamos imaginar as devesas de azinheiras, sobreiros, misturados com amarelas e às vezes esquecemo-nos da costa. No entanto, a Costa Vicentina alentejana é um dos melhores lugares onde passar umas férias tranquilas.  Para chegar ao Alentejo a entrada é desde Badajoz pela estrada EX100. Embora tenha curvas e seja estreita e muito agradável.



A primeira parada é Elvas, Alpesa para os romanos. Conquistada pelo rei Afonso I de Portugal em 1166, foi também muçulmana até que foi conquistada de novo pelos portugueses em 1226.
Património da Humanidade desde 2012 a primeira impressão pode desapontar: as casas sujas com descascamentos precisavam de serem pintadas.






Contudo, a Praça da República faz-te mudar da opinião: o edifício de turismo, a Associação Cultural (fez-me lembrar dos nossos casinos) e a Igreja de Nossa Senhora da Assunção, antiga Sé de Elvas. A construção é do século XVI e o arquiteto é Francisco de Arruda quem também trabalhou no aqueduto. A torre como fachada é típica das cidades raianas. Destaca no interior os tetos e a porta lateral manuelina. O Museu de Arte Sacra de Elvas fica anexo à Sé.






 

A igreja das Domínicas ou Convento das freiras Domínicas do século XVI com a sua planta octogonal de azulejos do século XVII é espetacular. Ao arquiteto Diogo de Torralva devemos a traça renascentista. A decoração interior é muito original: tudo forrado com azulejaria do século XVIII. As colunas de mármore, do século XVI, pintadas com fitas e guirnaldas sustentam o zimbório.








Desde o miradouro pode-se ver toda a cidade: o Pelourinho, a Porta da Alcáçova onde, á direita, um arco de ferradura ainda é testemunho e vestígio da época muçulmana.









Na parte alta da cidade surpreende um dos três fortes da cidade que os turistas procuram: o castelo, que junto ao Forte de Nossa Senhora de Graça e o Forte de Santa Luzia protegem a cidade e no passado protegeram Portugal. No forte de Graça há alguns baluartes que foram construídos por Wellington no século XIX.
Para os amadores do turismo militar é ideal percorrer esta zona e visitar também a praça-forte de Campo-maior a 15 km.









O aqueduto da Amoreira distingue-se desde o miradouro do Forte de Graça e é outra das atrações de Elvas. Foi construído nos séculos XV e XVII para transportar água. Têm uma longitude de 7,5 km.






O destino final era Vila Nova de Milfontes já na costa. A autoestrada A6 direção à Lisboa leva até apanhar a autoestrada E01direção â Algarve. Em Grândola a IC 33 conduz-te até à Vila Nova de Milfontes.
Vila Nova é uma aldeia pequena no concelho de Odemira no Parque Natural do Sudeste Alentejano. O rio Mira abre-se num estuário com as praias das Franquia- na ria-, Choupa -a volta de VN abre-se ao Atlântico- e Furnas na outra beira da ria. O forte de São Clemente do século XVI  construído para a defesa dos barcos piratas olha para a ria. Como curiosidade está o monumento aos aviadores. Em 1924 Brito Pais despegou desde lá até Macau, antiga colônia portuguesa.












VN é um destino perfeito para famílias que gostem da tranquilidade e de fazer caminhadas.
Se gostar desta possibilidade, há trilhos pela costa que lembram o caminho inglês do Caminho de Santiago. Toda a costa está percorrida por falésias e arribas com ermidas, casarios típicos e moinhos. É uma zona excelente de lazer.









Pelos redores de VN ao norte fica Sines, berço de Vasco d Gama e muito perto da cidade, para os amadores dos pássaros, a Lagoa de Santo André é, como dizem os ingleses, um “MUST”. Em março a lagoa abre-se ao mar, à uma praia imensa e quase vazia.






Desde Sines até VN descobrimos Porto Corvo com as suas casas brancas e azuis, a praça com a igreja e a pastelaria Marques, as praias e falésias e os seus percursos. Bem merece ficar um tempo lá!

 








A seguir a Ilha de Pessegueiro e a Praia de Malhão invitam parar de novo e desfrutar do pôr- do sol. Dizem que na ilha de Pessegueiro há ruínas romanas e um forte do século XVI.








Ao sul de VN Zambujeira no cimo da falésia é um miradouro natural sobre a praia.




As praias algarvias ficam muito perto e invitam os turistas a visitar. Na raia com o Alentejo Odeceixe surpreende-nos. A rio Seixe mistura-se com o oceano criando uma praia diferente com uma língua de areia.... A aldeia fica na falésia e o tráfico está muito bem organizado, pelo menos na páscoa. Talvez no verão seja diferente.







Há muitos mais viagens na Costa Vicentina, ainda para os amadores das ruínas por exemplo Santiago do Cacem ou Troia. Mas isto será outra viagem.


FLORBELLA ESPANCA: O MEU ALENTEJO



Meio-dia: O sol a prumo cai ardente,
Doirando tudo. Ondeiam nos trigais
D’oiro fulvo, de leve... docemente...
As papoilas sangrentas, sensuais...

Andam asas no ar; e raparigas,
Flores desabrochadas em canteiros,
Mostram por entre o oiro das espigas
Os perfis delicados e trigueiros...

Tudo é tranquilo, e casto, e sonhador...
Olhando esta paisagem que é uma tela
De Deus, eu penso então: Onde há pintor,

Onde há artista de saber profundo,
Que possa imaginar coisa mais bela,
Mais delicada e linda neste mundo?!