sábado, 16 de abril de 2016

DE ZERO A DEZ - Margarida Fonseca Santos




No próximo dia 23 de abril teremos connosco a escritora Margarida Fonseca na Casa de las Asociaciones. Falará sobre a dor crónica, as limitações e os medos que nos rodeiam. Encontraremos a força para superar os obstáculos do dia a dia? A resposta às 11:00 horas.





Cartaz 


Margarida




terça-feira, 12 de abril de 2016

PÉRIPLOS DO ARTE PORTUGUÊS HOJE


 

PÉRIPLOS DO ARTE PORTUGUÊS HOJE
Ignacio Aparicio Pérez-Lucas.

No Centro de Arte contemporáneo de Málaga está a ter lugar a ExposiçãO “Périplos do Arte Português hoje”, na qual participam 211 artistas portugueses numa proposta sem mais límites do que o soporte e as suas medidas, um quadro de 10 x 12 cm.  A partir de aqui os artistas têm liberdade total.

Arte figurativo, abstrato, concetual, realista, minimalismo, instalações, fotografia, tudo organizado numa mostra que agrupa as obras segundo a temática e estilo, num relato que tenta facilitar a visita e o diálogo com o espectador.  

Um périplo, uma viagem que inclui quadros/pizarra* de fundo branco onde aparecem gatafunhos, raias, traços e impressões de cores básicos,  tudo aquilo que por vezes faz alguns visitantes sentirem-se desapontados porque “Isto o pode fazer o meu menino”.  Foi o Picasso quem disse que tinha trabalhado toda a sua vida para poder pintar como uma criança, e acho que seria uma boa ideia que os espectadores olharam para o quadro com essa atitude, como se o tivesse pintado o seu próprio menino.
   
Há outro quadrinho com esta frase: “As imagens do mundo brilham no mundo das imagens”.  Mas as palavras estao feitas em relevo, as duas dimensoes dum espaço plano transformadas em tres, o quadro convertido numa escultura, a imagen numa presença, a ilusão portanto numa realidade.  A imagem a brilhar no mundo real.

 

Na seguinte parada da nossa viagem outro quadro concetual tem escritas as palavras Red Green Black e Yellow, cada uma delas na cor que designa.  Ou isso parece, porque depois de um olhar mais atento vemos que o Black está escrito com letras brancas, sobre uma banda preta que a rodeia, invade e faz parte delas.  O artista poderia estar a dizer: Se  vocês observam com atenção, as apariencias não enganan.  
A viagem pode continuar perante um quadro com muito corpo. .. porque está feito de pele, à maneira de algumas paredes da cidade, onde a gente põe sucesivamente diferentes cartazes e anuncios de todo tipo, que são parcialmente arrancados mais tarde, e ficam arranhados, molhados pela chuva, queimados pelo sol, resultando uma espece de palimpsesto de cores e mensagens incoerentes e fragmentados, envelhecidos pelo passo do tempo.  A pele do tempo, os aneis das árvores. 



Sigamos até uma peça feita como de simples palites, que representam o sol –amarelo-, a água –azul-, uma palmeira –que não é verde mas branca-, tudo sobre uma superficie rugosa como se fossem ondas de areia, dunas do deserto.

   
  

Deste oasis continuamos até uma paisagem com um fundo gris-amarelo, onde vemos um traço vertical impreciso, mal inclinado para um lado.  Apenas o acompanha uma mancha arredondada também sem formas definidas e com a mesma inclinação da linha vertical.  As formas fazem pensar vagamente numa paisagem, a luz túrbida poderia ser a de uma tormenta, a noite que está a cair, mal se ve, e tudo tem qualquer coisa de caligrafia oriental.  


Procuramos proteção num lenço muito dourado e brilhante.  Um traço preto faz uma espécie de símbolo circular duplicado e contínuo, como de ida e volta, que dir-se-ia a representação de algo sagrado, do princípio da vida, do eterno retorno, do infinito. 
 

Quadros, lugares, espaços do mundo que muitas veces  não se podem –nem se debem- explicar, desses que não se compreendem racionalmente, “que nao têm sentido” ha quem diga, quando pelo contrário apelam a todos os nossos sentidos, a um olhar interior, indefinível, musical.  Quadros que não falam, que são silêncio, mas um silêncio que abrendo bem os olhos podemos ouvir. 


Em fim, partendo da igualdade, o límite físico do quadro -10 x 12  cm-, temos chegado à diferença, à diversidade, do orden até ao caos, do finito ao infinito.  Um caminho que cada artista  nos convida a percorrer à sua maneira, mas que não termina até que nós –os espectadores, os viageiros- formos capazes de facé-lo nosso.  


Um periplo de artistas portugueses, uma volta ao mundo do Arte em 211 escalas, sem sair de Portugal.