Inmaculada Montero
Agora que tenho
todo o tempo do mundo e depois de ler o artigo de El País no sábado 21 de março
"Sección de viajes imaginarios" aproveitarei esta quarentena para
lembrar e partilhar algumas viagens por Portugal.
Desta vez é o
turno do Alentejo. Que longe fica o Alentejo-alem do Tejo! Quando pensamos no
Alentejo costumamos imaginar as devesas de azinheiras, sobreiros, misturados com
amarelas e às vezes esquecemo-nos da costa. No entanto, a Costa Vicentina
alentejana é um dos melhores lugares onde passar umas férias tranquilas. Para chegar ao Alentejo a entrada é desde
Badajoz pela estrada EX100. Embora tenha curvas e seja estreita e muito agradável.
A primeira parada
é Elvas, Alpesa para os romanos. Conquistada pelo rei Afonso I de
Portugal em 1166, foi também muçulmana até que foi conquistada de novo pelos
portugueses em 1226.
Património da
Humanidade desde 2012 a primeira impressão pode desapontar: as casas sujas com
descascamentos precisavam de serem pintadas.
Contudo, a Praça
da República faz-te mudar da opinião: o edifício de turismo, a Associação
Cultural (fez-me lembrar dos nossos casinos) e a Igreja de Nossa Senhora da
Assunção, antiga Sé de Elvas. A construção é do século XVI e o arquiteto é Francisco
de Arruda quem também trabalhou no aqueduto. A torre como fachada é típica das
cidades raianas. Destaca no interior os tetos e a porta lateral manuelina. O
Museu de Arte Sacra de Elvas fica anexo à Sé.
A igreja das
Domínicas ou Convento das
freiras Domínicas do século XVI com a sua planta octogonal de azulejos do
século XVII é espetacular. Ao arquiteto Diogo de Torralva devemos a traça renascentista.
A decoração interior é muito original: tudo forrado com azulejaria do século
XVIII. As colunas de mármore, do século XVI, pintadas com fitas e guirnaldas
sustentam o zimbório.
Desde o miradouro
pode-se ver toda a cidade: o Pelourinho, a Porta da Alcáçova onde, á direita,
um arco de ferradura ainda é testemunho e vestígio da época muçulmana.
Na parte alta da cidade surpreende um dos três
fortes da cidade que os turistas procuram: o castelo, que junto ao Forte
de Nossa Senhora de Graça e o Forte de Santa Luzia protegem a cidade
e no passado protegeram Portugal. No forte de Graça há alguns baluartes que
foram construídos por Wellington no século XIX.
Para os amadores
do turismo militar é ideal percorrer esta zona e visitar também a praça-forte
de Campo-maior a 15 km.
O aqueduto da
Amoreira distingue-se desde o miradouro do Forte de Graça e é outra das
atrações de Elvas. Foi construído nos séculos XV e XVII para transportar água. Têm
uma longitude de 7,5 km.
O destino final
era Vila Nova de Milfontes já na costa. A autoestrada A6 direção à Lisboa
leva até apanhar a autoestrada E01direção â Algarve. Em Grândola a IC 33
conduz-te até à Vila Nova de Milfontes.
Vila Nova é uma
aldeia pequena no concelho de Odemira no Parque Natural do Sudeste Alentejano. O
rio Mira abre-se num estuário com as praias das Franquia- na ria-, Choupa -a volta de VN
abre-se ao Atlântico- e Furnas na outra beira da ria. O forte de São Clemente
do século XVI construído para a defesa
dos barcos piratas olha para a ria. Como curiosidade está o monumento aos
aviadores. Em 1924 Brito Pais despegou desde lá até Macau, antiga colônia
portuguesa.
VN é um destino perfeito para famílias que
gostem da tranquilidade e de fazer caminhadas.
Se gostar desta
possibilidade, há trilhos pela costa que lembram o caminho inglês do Caminho de
Santiago. Toda a costa está percorrida por falésias e arribas com ermidas,
casarios típicos e moinhos. É uma zona excelente de lazer.
Pelos redores de
VN ao norte fica Sines, berço de Vasco d Gama e muito perto da cidade, para
os amadores dos pássaros, a Lagoa de Santo André é, como dizem os ingleses,
um “MUST”. Em março a lagoa abre-se ao mar, à uma praia imensa e quase vazia.
Desde Sines até
VN descobrimos Porto Corvo com as suas casas brancas e azuis, a praça com a
igreja e a pastelaria Marques, as praias e falésias e os seus percursos. Bem
merece ficar um tempo lá!
A seguir a Ilha
de Pessegueiro e a Praia de Malhão invitam parar de novo e desfrutar do pôr- do sol. Dizem que na ilha de Pessegueiro
há ruínas romanas e um forte do século XVI.
Ao sul de VN Zambujeira
no cimo da falésia é um miradouro natural sobre a praia.
As praias
algarvias ficam muito perto e invitam os turistas a visitar. Na raia com o
Alentejo Odeceixe surpreende-nos. A rio Seixe mistura-se com o oceano
criando uma praia diferente com uma língua de areia.... A aldeia fica na
falésia e o tráfico está muito bem organizado, pelo menos na páscoa. Talvez no
verão seja diferente.
Há muitos mais
viagens na Costa Vicentina, ainda para os amadores das ruínas por exemplo
Santiago do Cacem ou Troia. Mas isto será outra viagem.
FLORBELLA ESPANCA: O MEU ALENTEJO
Meio-dia: O sol a prumo cai ardente,
Doirando tudo. Ondeiam nos trigais
D’oiro fulvo, de leve... docemente...
As papoilas sangrentas, sensuais...
Andam asas no ar; e raparigas,
Flores desabrochadas em canteiros,
Mostram por entre o oiro das espigas
Os perfis delicados e trigueiros...
Tudo é tranquilo, e casto, e sonhador...
Olhando esta paisagem que é uma tela
De Deus, eu penso então: Onde há pintor,
Onde há artista de saber profundo,
Que possa imaginar coisa mais bela,
Mais delicada e linda neste mundo?!
Doirando tudo. Ondeiam nos trigais
D’oiro fulvo, de leve... docemente...
As papoilas sangrentas, sensuais...
Andam asas no ar; e raparigas,
Flores desabrochadas em canteiros,
Mostram por entre o oiro das espigas
Os perfis delicados e trigueiros...
Tudo é tranquilo, e casto, e sonhador...
Olhando esta paisagem que é uma tela
De Deus, eu penso então: Onde há pintor,
Onde há artista de saber profundo,
Que possa imaginar coisa mais bela,
Mais delicada e linda neste mundo?!
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