“Tão cedo passa tudo quanto passa!
Morre tão jovem ante os Deuses quanto
Morre! Tudo e´tão pouco!
Nada se sabe, tudo se imagina.
Circunda-te de rosas, ama, bebe
E cala. O mais é nada.”
Ha uns días fui ver uma exposição
sobre o poeta português Fernando Pessoa, que está a decorrer no Círculo de
Bellas Artes de Madrid até o 5 de março
de 2017.
A peça principal é um documentário intitulado “Pessoa-Lisboa”
realizado por Alberto Ruiz de Samaniego e José Manuel Mouriño, que confronta os
diferentes lugares da cidade onde o poeta viveu, e os seus poemas e escritas.
Além disso, os autores apresentam o Atlas
Pessoa, uma ferramenta informática que permete navegar pelo conjunto da obra do
escritor e ajuda desta maneira a um melhor e mais integrado conhecimento
dela.
Portanto, mais do que uma apresentação
de diversos materiais e objetos relacionados com o escritor, trata-se de uma
mostra baseada em elementos visuais e digitais, dirigida a conseguir uma
profundiçação na obra e na vida do poeta.
O guião do documentário está
dividido em diferentes cenas, que têm uma certa evocação teatral e servem como
decorado e contexto biográfico aos versos e escritas do Pessoa.
“Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
Àparte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.”
Depois de ver a exposição comprei
o livro-catálogo e subi ao terraço do edificio para ler alguns dos poemas e desfrutar
das magnificas fotografías –quer antigas, quer actuáis- da belíssima capital
portuguesa. As vistas desde o topo do
edifício do Círculo de Bellas Artes são extraordinarias, e embora o tempo não
ajudasse –estava muito frio-, despois de um bom copo de vinho tinto pude
sentir-me muito à vontade, gozando das palavras do Pessoa, das imagens lisboetas
e, quando levantava a cabeça e olhava em redor, das magnificas panorámicas
madrilenhas.
Havia também muita gente jovem que chegava, tirava umas fotinhas e
ia logo. Alguma menina linda demorava um bocadinho mais, a olhar para todo o
lado, mas nunca, infelizmente, para mim.
“Dai-me mais vinho, porque a vida é nada.”
Lembrei-me –e ria enquanto lembrava- duma
frase que alguém disse na última reunião do Clube de Leitura: Sozinho na
multidão.
“E amor
a amor, ou livro a livro, amemos
Nossa lareira breve.”
Tirei fotos de tudo, e já à noite fui até a estação de Chamartin a apanhar o comboio de
volta para Salamanca. Nas escadas
exteriores da estação tirei uma última fotinha das torres madrilenhas, altas e
orgulhosas, indiferentes àqueles que não gostam delas, num momento em que
pareceu-me que havia uma mistura de luzes entre o dia e a noite, unida à propria
luminosidade dos edificios -como gigantescos neones de muitas cores- e
finalmente ao reflexo poderoso –que parecía atingir os arranha-céus- duma lua
recente e cheia. No céu reverberava uma
luz ao mesmo tempo crepuscular e festiva, ecoando algumas vistas desde o
terraço do Círculo, que mais tarde, quando estava no comboio a ler os textos do
poeta, voltei a sentir:
“Quero ir para a morte, como para uma festa ao crepúsculo.”
“PESSOA/LISBOA e uma tarde em
Madrid.”
Ignacio Aparicio Pérez-Lucas.
Salamanca, fevereiro 2017.