segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

PESSOA/LISBOA e uma tarde em Madrid





“Tão cedo passa tudo quanto passa!

Morre tão jovem ante os Deuses quanto

Morre! Tudo e´tão pouco!

Nada se sabe, tudo se imagina.

Circunda-te de rosas, ama, bebe

E cala. O mais é nada.”



Ha uns días fui ver uma exposição sobre o poeta português Fernando Pessoa, que está a decorrer no Círculo de Bellas Artes de Madrid até o  5 de março de  2017.



A peça principal é  um documentário intitulado “Pessoa-Lisboa” realizado por Alberto Ruiz de Samaniego e José Manuel Mouriño, que confronta os diferentes lugares da cidade onde o poeta viveu, e os seus poemas e escritas. 


 Além disso, os autores apresentam o Atlas Pessoa, uma ferramenta informática que permete navegar pelo conjunto da obra do escritor e ajuda desta maneira a um melhor e mais integrado conhecimento dela.  



Portanto, mais do que uma apresentação de diversos materiais e objetos relacionados com o escritor, trata-se de uma mostra baseada em elementos visuais e digitais, dirigida a conseguir uma profundiçação na obra e na vida do poeta.  
 

O guião do documentário está dividido em diferentes cenas, que têm uma certa evocação teatral e servem como decorado e contexto biográfico aos versos e escritas do Pessoa. 


“Não sou nada.

Nunca serei nada.

Não posso querer ser nada.

Àparte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo.”


 Depois de ver a exposição comprei o livro-catálogo e subi ao terraço do edificio para ler alguns dos poemas e desfrutar das magnificas fotografías –quer antigas, quer actuáis- da belíssima capital portuguesa.  As vistas desde o topo do edifício do Círculo de Bellas Artes são extraordinarias, e embora o tempo não ajudasse –estava muito frio-, despois de um bom copo de vinho tinto pude sentir-me muito à vontade, gozando das palavras do Pessoa, das imagens lisboetas e, quando levantava a cabeça e olhava em redor, das magnificas panorámicas madrilenhas. 


 
Havia também muita gente jovem que chegava, tirava umas fotinhas e ia logo. Alguma menina linda demorava um bocadinho mais, a olhar para todo o lado, mas nunca, infelizmente, para mim.

  “Dai-me mais vinho, porque a vida é nada.”

  Lembrei-me –e ria enquanto lembrava- duma frase que alguém disse na última reunião do Clube de Leitura: Sozinho na multidão.


 “E amor a amor, ou livro a livro, amemos

          Nossa lareira breve.”
 

 Tirei fotos de tudo, e já à noite fui até a estação de Chamartin a apanhar o comboio de volta para Salamanca.  Nas escadas exteriores da estação tirei uma última fotinha das torres madrilenhas, altas e orgulhosas, indiferentes àqueles que não gostam delas, num momento em que pareceu-me que havia uma mistura de luzes entre o dia e a noite, unida à propria luminosidade dos edificios -como gigantescos neones de muitas cores- e finalmente ao reflexo poderoso –que parecía atingir os arranha-céus- duma lua recente e cheia.  No céu reverberava uma luz ao mesmo tempo crepuscular e festiva, ecoando algumas vistas desde o terraço do Círculo, que mais tarde, quando estava no comboio a ler os textos do poeta, voltei a sentir:



“Quero ir para a morte, como para uma festa ao crepúsculo.”






“PESSOA/LISBOA e uma tarde em Madrid.”

Ignacio Aparicio Pérez-Lucas.

Salamanca, fevereiro 2017.



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