No salmantino Domus Artium 2002
–DA2- podemos ver agora e até o 5 fevereiro 2017 uma exposição de pintura do
artista português Martinho Costa.
O pintor nasceu em 1977 em
Fátima, e reside e trabalha em Lisboa. A
sua pintura é figurativa, realista, mas é preciso dizer logo que ao mesmo tempo
trata-se de uma arte muito analítica e conceptual, em permanente diálogo com a
história, e sempre à procura do sentido das imagens na idade da globalização.
A mostra tem várias partes. Uma delas é uma série de 48 retratos. Trata-se duma homenagem ao pintor alemão
Gerard Richter que em 1972 apresentou em Venezia um conjunto de pinturas sob o
mesmo título. Foi o Richter quem disse
que algumas fotos anónimas na Internet podem ser melhores do que o melhor
Cezanne. Naquela exposição Richter
pintou 48 retratos de importantes personagens históricas do século XIX. Martinho Costa, pelo contrario, apresenta imagens
de gente desconhecida, tiradas das redes sociais e da Internet. Ainda mais, sublinha o facto do anonimato a
través da ocultação dos rostos, retratando desta maneira, paradóxicamente, ninguém.
Fatos, chapéus, máscaras. Atributos sem
homem, parafraseando ao Musil.
O diario de Robert Stern é outra
das séries desta exposição. Stern é um
cidadão de Pensilvania que publica compulsivamente as suas fotografias na web
Flickr. Costa apanha essas fotos e
trabalha com elas no meio pictórico, fixando o efémero e transformando o
individuo anónimo num motivo universal.
A pintura de maior tamanho
representa o bosque de Fontainebleau com a estrada que o atravessa e um cartaz
de tráfico que o identifica. Também não é por acaso que o pintor escolhe este motivo. A Escola de Barbizon, muito perto dali,
esteve formada por um conjunto de artistas que, na segunda metade do Século XIX
tiraram a pintura dos escritórios levando-a ao ar livre, começando desta maneira um trabalho que os
impresionistas iam convertir numa nova e radical linguagem artística.
Martinho Costa procura a imagem
em Google e pinta-a num estilo figurativo não hiper-realista, sem emfatizar o
gesto pictórico, e organizando o quadro numa estructura reticular que fala
tanto das velhas técnicas pictóricas como pode evocar a construçãao das imagens
digitais a partir dos pixeles.
“Todos os días saio por um
caminho diferente” é outra das series desta exposição, e nela o pintor retrata
o seu escritório, o lugar onde trabalha, e o faz sem se dar importância alguma,
irónicamente, convertindo-o num bodegón múltiple,
um conjunto de pinturas por vezes dobradas –“folded”- sobre o chão, um espaço todo
ele onde se mistura a arte e a vida com alguma pincelada de humor
escatológico.
Finalmente, há quadros que
lembram restos de ruinas, quer de um passado muito antigo, quer de um futuro
que já está aquí, à maneira dos filmes do Mad Max.
E mais coisas. Vão ver esta
exposicão de Martinho Costa, um jovem artista portugus que pinta –pinta!- e
muito mais. Vocés são os espectadores, vejam
o que quiserem, e o que não vejam imaginem
a vontade.
Ignacio Aparicio Pérez-Lucas.
Mais informação:
http://martinho-costa.blogspot.com.es/
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