Dizem que as coisas saem melhor quando se fazem sem as termos planeado e isso foi o que aconteceu no último fim-de-semana prolongado. Depois de ter lido um artigo que falava da estrada mais bonita do mundo em termos de condução, decidimos ir a Passo de Régua no vale do Douro.
Há cinco anos, tínhamos feito a viagem de comboio desde o Pocinho até ao Porto, mas não descemos até à Régua. Por certo muito recomendável, mas isso é outra viagem! Agora a visão seria diferente
Apanhámos a autoestrada até à Guarda
num dia ensolarado e claro. Depois da Guarda seguimos pela IP2 até Trancoso,
que não podíamos deixar de visitar, mesmo que já tivéssemos estado lá. Almoço e
passeio pelos arredores do Castelo, pelos cantos, becos e vielas… Quase não
havia ninguém, só as vozes e gargalhadas dos adolescentes que saiam do
liceu. A aldeia estava muito calma.
Seguimos pela estrada N226 até
Moimenta de Beira e antes de chegar, viramos à direita para Tabuaço na N323. A
paisagem era espetacular: árvores de fruto, carvalhos com as folhas a mudar da
cor, castanheiros, romãzeiras… Surpreenderam-me os campos cheios de
árvores sem folhas nenhumas, mas só com frutos cor de laranja. Mais tarde
soube que eram dióspiros.
Assim começamos a descer o vale. Esse foi o primeiro
contato com as vinhas, as oliveiras, os socalcos. Embora o sol se estivesse a
pôr e não tivessemos a melhor luz, a paisagem já pressagiava o que nos
esperava. Como dizia Eugénio de Andrade “o rio estava transformado em
sucessivos e extensos espelhos de água”.
É verdade que a Régua tem muitas
opções: o teatro, a igreja, o museu do Douro, um passeio pela Beira, visitas às
quintas para poder ver como se faz o vinho… No entanto, no dia seguinte
continuamos até Mesão Frio. Não havia um destino, só desfrutar da paisagem, dos
miradouros, dos trilhos perto das vinhas nas quintas... O outono continuava nas
cores das árvores, nas vinhas… mesmo que fosse dezembro! Era um festim para a
vista.
Para o almoço escolhemos o Pinhão,
na confluência com o rio do mesmo nome e à beira do Douro, depois de percorrer
de novo a melhor estrada do mundo. Ao contrário do que aconteceu na tarde
anterior, o sol dava agora nos socalcos e embelecia-os. Não se pode abandonar o
Pinhão sem visitar a estação com os azulejos que percorrem a vida no vale e o
miradouro. Foi a perfeita despedida embora ainda tivéssemos a viagem de volta
por São João da Pesqueira, Vila Nova de Foz Côa até Figueira do Castelo
Rodrigo. Mais e mais vinhas, novas quintas que me deram novas ideias para
outras viagens.
Inmaculada Montero
“O que é bonito neste mundo, e anima
É ver que
na vindima
De cada
sonho
Fica a cepa
a sonhar outra aventura.
E que a
doçura
Que
não se prova
Se
transfigura
Noutra
doçura
Muito mais
pura
E muito
mais nova”
Miguel Torga