PÉRIPLOS DO ARTE PORTUGUÊS HOJE
Ignacio Aparicio Pérez-Lucas.
No Centro de Arte contemporáneo
de Málaga está a ter lugar a ExposiçãO “Périplos do Arte Português hoje”, na
qual participam 211 artistas portugueses numa proposta sem mais límites do que
o soporte e as suas medidas, um quadro de 10 x 12 cm. A partir de aqui os artistas têm liberdade
total.
Arte figurativo, abstrato, concetual,
realista, minimalismo, instalações, fotografia, tudo organizado numa mostra que
agrupa as obras segundo a temática e estilo, num relato que tenta facilitar a
visita e o diálogo com o espectador.
Um périplo, uma viagem que inclui
quadros/pizarra* de fundo branco onde aparecem gatafunhos,
raias, traços e impressões de cores básicos,
tudo aquilo que por vezes faz alguns visitantes sentirem-se desapontados
porque “Isto o pode fazer o meu menino”.
Foi o Picasso quem disse que tinha trabalhado toda a sua vida para poder
pintar como uma criança, e acho que seria uma boa ideia que os espectadores
olharam para o quadro com essa atitude, como se o tivesse pintado o seu próprio
menino.
Há outro quadrinho com esta
frase: “As imagens do mundo brilham no mundo das imagens”. Mas as palavras estao feitas em relevo, as
duas dimensoes dum espaço plano transformadas em tres, o quadro convertido numa
escultura, a imagen numa presença, a ilusão portanto numa realidade. A imagem a brilhar no mundo real.
Na seguinte parada da nossa viagem
outro quadro concetual tem escritas as palavras Red Green Black e Yellow, cada
uma delas na cor que designa. Ou isso
parece, porque depois de um olhar mais atento vemos que o Black está escrito
com letras brancas, sobre uma banda preta que a rodeia, invade e faz parte delas. O artista poderia estar a dizer: Se vocês observam com atenção, as apariencias não
enganan.
A viagem pode continuar perante
um quadro com muito corpo. .. porque está feito de pele, à maneira de algumas
paredes da cidade, onde a gente põe sucesivamente diferentes cartazes e
anuncios de todo tipo, que são parcialmente arrancados mais tarde, e ficam
arranhados, molhados pela chuva, queimados pelo sol, resultando uma espece de
palimpsesto de cores e mensagens incoerentes e fragmentados, envelhecidos pelo
passo do tempo. A pele do tempo, os
aneis das árvores.
Sigamos até uma peça feita como
de simples palites, que representam o sol –amarelo-, a água –azul-, uma palmeira
–que não é verde mas branca-, tudo sobre uma superficie rugosa como se fossem
ondas de areia, dunas do deserto.
Deste oasis continuamos até uma
paisagem com um fundo gris-amarelo, onde vemos um traço vertical impreciso, mal
inclinado para um lado. Apenas o acompanha
uma mancha arredondada também sem formas definidas e com a mesma inclinação da
linha vertical. As formas fazem pensar
vagamente numa paisagem, a luz túrbida poderia ser a de uma tormenta, a noite
que está a cair, mal se ve, e tudo tem qualquer coisa de caligrafia
oriental.
Procuramos proteção num lenço
muito dourado e brilhante. Um traço
preto faz uma espécie de símbolo circular duplicado e contínuo, como de ida e
volta, que dir-se-ia a representação de algo sagrado, do princípio da vida, do
eterno retorno, do infinito.
Quadros, lugares, espaços do
mundo que muitas veces não se podem –nem
se debem- explicar, desses que não se compreendem racionalmente, “que nao têm
sentido” ha quem diga, quando pelo contrário apelam a todos os nossos sentidos,
a um olhar interior, indefinível, musical.
Quadros que não falam, que são silêncio, mas um silêncio que abrendo bem
os olhos podemos ouvir.
Em fim, partendo da igualdade, o
límite físico do quadro -10 x 12 cm-,
temos chegado à diferença, à diversidade, do orden até ao caos, do finito ao
infinito. Um caminho que cada artista nos convida a percorrer à sua maneira, mas que
não termina até que nós –os espectadores, os viageiros- formos capazes de
facé-lo nosso.
Um periplo de artistas
portugueses, uma volta ao mundo do Arte em 211 escalas, sem sair de
Portugal.
Sem comentários:
Enviar um comentário